20 de Novembro – Dia da Consciência Negra

Infelizmente, ainda vivemos em um país onde é preciso um feriado, ou uma data oficial, para lembrar que não há, ou não deveria haver, diferenças entre negros, pardos, mulatos, brancos.

Não se tem números oficiais, mas estimasse que mais de 12 milhões de africanos foram tirados da Africa e trazidos para as Américas para serem comercializados como escravos. Detalhe: desse total, 20% não chegaram a completar a viagem.

A derrocada do tráfico negreiro começou em 1807, quando a Inglaterra aboliu o tráfico pelo Atlântico, medida seguida por França, Holanda e Espanha e depois pelos países latinos. Nosso país foi o último.

O Brasil, recebeu cerca de 5 milhões desses escravos. Foram a principal mão de obra dos três principais ciclos econômicos do império: cana-de-açúcar, ouro e café. Em uma manobra politica da princesa Isabel, ps escravos receberam a alforria, mas nunca foram libertos. Continuaram presos nas lavouras de café  ou nas áreas suburbanas das cidades em condições precárias, análogas à escravidão. Há relatos que muitos preferiam a escravidão, porque quando escravos, mesmo que tratados de maneira desumana, ainda eram um “bem” do fazendeiro e, por isso, recebiam o mínimo de comida e abrigo, coisa que como trabalhadores livres muitas vezes não tinham acesso.

E hoje? 56,10%. Esse é o percentual de pessoas que se declaram negras no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE. Dos 209,2 milhões de habitantes do país, 19,2 milhões se assumem como pretos, enquanto 89,7 milhões se declaram pardos.

O termo escravo não existe mais, mas crio-se um abismo social entre aqueles que negociavam e eram negociados no passado. Entre aqueles que não têm emprego ou estão subocupados, negros são a maior parte. Também são a maior parte entre as vítimas de homicídio e compõem mais de 60% da população carcerária do país. Negros também são sub-representados no cinema, sendo minoria entre os vencedores e os integrantes de júris de premiações. Entre os 10% da população brasileira que têm os maiores rendimentos do país, só 27,7% são negros.

Fica a reflexão: o que podemos fazer na nossa fazenda, no nosso negócio, no nosso círculo social, para fazer que 20 de Novembro deixe de ser um feriado, e se torne lembrança de uma época em que a desigualdade precisava de um dia oficial para ser lembrada?

Thales Consentine

Imagem do título: Cena na rua Direita (atual rua Primeiro de Março): negros carregadores de café, negras libertas, negro liberto, viajante africano, c.1840
Nanquim, aquarela e guache sobre papel de Paul Harro-Harring / Acervo IMS

fontes consultadas: 
http://ims.com.br/por-dentro-acervos/iconografia-do-brasil/
http://super.abril.com.br/especiais/a-era-da-escravidao/
http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-numeros-brasil/